DA SÉRIE
CONTOS AUTOBIOGRÁFICOS
DE
ADhemyr Fortunatto.
Proibida a reprodução sem autorização prévia do autor.
Texto publicado em nossa Coluna, no JR NOTÍCIAS.
É certo — disse-me um amigo certa vez, —
que em determinados assuntos é importante a opinião de uma mulher.
Eu
tentei apor o meu conceito, de que em todos os assuntos, isto sim, a opinião de
uma mulher deve ser requisitada.
Ele
fez um muxoxo; ajeitou a gravata; virou mais um gole da cerveja gelada; mudou
de assunto.
E
apesar de tantos pontos-e-vírgulas, e afinal, o ponto final, nem por isso nossa
amizade esfriou; o que fez com que nos separássemos foi que ele mudou de
empresa; foi para o interior, e nunca mais nos falamos. Mas, bem... Essa não é a história a que me propunha aqui
narrar!
Pois
então, decidido estou a contar porque dia desses lembrei da consideração daquele
amigo, de tanto ouvir as mães da vizinhança gritando com os seus filhos ‘crescidinhos’:
—
Vá tomar banho, fulano! Há dois dias que não toma banho!
Às
vezes três, até quatro, cinco dias... (Risos...).
Mais
risos ainda porque o episódio aqui se trata mesmo é de filhos adultos; homens
de vinte, vinte e cinco, trinta anos.
Aí
dei para ponderar até que ponto, quando esses homens casassem, suas esposas
ficariam mandando-os tomar banho, tal qual suas mães, agora.
Ri
do meu pensar. Nem por isso abdiquei de
querer saber de uma opinião alheia. Foi assim que rememorei o meu amigo do
passado, que ressaltara o imperativo da opinião feminina, em certos casos.
Ah,
de pronto lembrei da Dona Cotinha, senhora de sessenta anos, viúva do Dr.
Ambrósio...
E
tão logo pude vê-la, coloquei em pauta esse assunto dos homens adultos sujos,
ao que ela me olhou com certa suspeita, pelo que me pareceu.
Estávamos
vindos da feira, ambos cheios de sacolas, tanto que até me propus a carregar algumas
compras dela.
Após
meditar um tanto, ela me disse, com segurança; olhar malicioso:
—
Filho... da mesma forma que há homens
fedorentos em casa, há homens muito cheirosos na rua!
Nesse
ponto da conversa ela já chegava em casa, e procurava a chave para abrir o
portão; morávamos relativamente pertos um do outro. Aproveitei para pedir mais detalhes:
—
Como assim, Dona Cotinha?
Ora, meu filho, fez ela, meneando a
cabeça, da missa você não sabe nem a
metade! Não se esqueça que fui casada durante anos com um homem fedorento...
—
Ah?!...
—
Sei do riscado, meu filho! — acrescentou afinal a Dona Cotinha, com um olhar
maroto, cheia de sacolas (e talvez de segredos...),
entrando em casa, despedindo-se de mim sem me olhar.
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Autor: ADhemyr Fortunatto